Depois de recebermos a notícia, o próximo passo é preparámo-nos para a quimioterapia.
Tal como no post anterior (aqui), vou falar-vos de como foi comigo.
Eu estava totalmente despreparada. Não tinha nenhum caso próximo, não fiz perguntas, não sabia nada e entrei para o primeiro tratamento sem ter noção de nada e isso não foi nada bom. Com a experiência aprendi algumas coisas que quero partilhar convosco, na esperança de vos ajudar a estarem mais preparados.
Quando nos é dito que vamos começar um tratamento que se chama quimioterapia, temos que:
Questionar o médico! Caso não saiba o que é quimioterapia, começar por pedir que lhe expliquem isso mesmo, depois saber que tipo de quimioterapia lhe vai ser prescrita. Se injectável, oral… Quanto ciclos são? Quanto tempo cada ciclo? Haverão pausas entre ciclos? Sim? Quantos dias? Quando são feitos exames entre ciclos para controlar o tratamento? E são feitos através de análises ao sangue ou outros exames? Prognóstico da resposta do tratamento ao tipo de doença que tem? Ou seja, convém perguntar tudo aquilo que no momento lhe cria alguma ansiedade. Assim descarta logo essa nuvem carregada de perguntas que paira sobre a sua cabeça.
Eu sei que estou sempre a bater na mesma tecla, mas para mim é muito importante que estejamos informados.
Peça um nutricionista! No hospital (não sei se será possível em todos os hospitais, no meu caso nunca me foi dito nada em relação a nutrição, o que é um erro dos grandes, verá que nem tudo faz muito sentido), peça uma consulta de nutrição para saber o que pode ou não pode comer durante o tratamento. Caso não tenha aceso a essa consulta, investigue em livros, no Google (mas tenha cuidado com o que encontra na internet) ou fale com alguém que já tenha passado pelo mesmo. Assim evitará grandes danos durante o tratamento. Irei falar nesse tema mais para a frente. Mas é muito importante ter uma alimentação que ajude o corpo durante o tratamento. Eu, ao contrário de alguns médicos que dizem: “Pode comer tudo, desde que coma…”, não concordo absolutamente nada.
Prepare-se para a mudança! Se lhe disserem que vai ser tudo igual, é mentira. Não vai. Prepare-se que o seu corpo vai mudar, por fora e por dentro. Esteja preparado/a para que lhe caia o cabelo, para perder peso, ou para inchar. Para os eventuais efeitos secundários do tratamento, para se sentir cansado/a, para ter alterações de humor, enfim, prepare-se para uma jornada dura, para depois não ter um efeito surpresa indesejável (como eu tive, porque estava muito despreparada). Pense que faz parte desta fase. Tenha calma!
Imprevistos acontecem! Esta doença ensina-nos muita coisa, principalmente a viver com os imprevistos. Aprendemos rapidamente que não controlamos tudo. Quando o tratamento inicial é prescrito, não significa que se “falharmos” um ciclo que estamos a perder terreno. Nada disso! Somos todos diferentes e o corpo de cada um de nós responde de maneira diferente, por isso, é difícil prever à distância se os ciclos vão ser cumpridos conforme estão programados no protocolo inicialmente prescrito. Prepare-se para isso mesmo e não desanime.
Preparar os dias de tratamento! Independentemente se está de baixa médica ou a trabalhar, prepare os dias de tratamento de forma a estar mais tranquilo/a. Deixe refeições programadas e prontas. Organize atempadamente a ida e o regresso do hospital. Se tiver filhos, organize a vida deles de forma a garantir quem os leva e vai buscar à escola e lhes prepara os lanches. Deixe as tarefas domésticas tratadas. Se conseguir organize tudo aquilo que ajude a reduzir a ansiedade, não queremos isso nesta fase!
Pessoas! Mais uma vez escolha as pessoas certas! Não tenha medo de pedir ajuda. Não faça esta viagem sozinho/a. Peça ajuda aos familiares e amigos. Não pense que será um fardo, os fardos são de palha e que eu saiba a palha não tem cancro, certo? Por isso, não somos de palha e não somos nenhum fardo!
Dias tranquilos! Aqui depende muito de pessoa para pessoa. No meu caso, eu acabava a quimioterapia e mal conseguia mexer os olhos, quanto mais estar de pé, mas havia pessoas que conseguiam fazer uma vida praticamente normal. Por isso, se for este o seu caso, ainda bem! Mas se não for, prepare atempadamente um ambiente tranquilo. Grave episódios da sua telenovela ou série preferida e veja nesses dias. Se gostar e lhe apetecer ler, escolha um livro leve e inspirador. Convide amigos para lhe fazerem uma visita e beber um chá, mas tente estar tranquilo/a, o seu corpo vai agradecer.
Estar consciente! Por muito que a prima da porteira do prédio da sua cunhada (há sempre uma história assim) tenha feito quimioterapia e não tenha tido qualquer efeito secundário, convém estar consciente dos possíveis/eventuais efeitos secundários que o tratamento pode trazer, para que no momento não ache que alguma coisa está a correr mal e também para saber que nem tudo o que pode ter após a quimio é efeito da mesma e, dessa forma, poder alertar o médico. E não se esqueça que como não somos todos iguais, também os efeitos secundários variam de pessoa para pessoa, não há regra para isto.
Antecipe-se! Se o cabelo lhe vai cair, então antecipe esse problema. Não faça como eu que acordei com metade do cabelo na almofada e fingi que não se passava nada. Rape! É mais prático, higiénico e por muito que custe, faz parte desta fase e depois volta a crescer. Decida se vai assumir a careca (eu assumi a minha, só usava gorros por causa do frio), se vai usar peruca, lenços, gorros, chapéus e como se costuma dizer: se vai para o mar, prepare-se em terra! Arranje uns lenços giros e coloridos, ou peça emprestado ao neto aqueles bonés do skate. Não tenha vergonha e não se esconda, faça-o por si e não com medo do que os outros vão pensar.
Prepare-se que ela não brinca em serviço! Ela quem? A quimioterapia. A melhor forma de a recebermos é estarmos armados até ao dentes! (também temos que dar um toque de humor por aqui, senão isto parece uma coisa muito cinzenta!).
Nos dias antes do tratamento vá se preparando psicologicamente e fisicamente. Coma saudável, evite comida de plástico e escolha alimentos que lhe reforcem o sistema imunitário, não se esqueça que ele vai ser atacado. Beba muitos chás e água. Durma bem, tente pensar positivo, esteja feliz e se conseguir, elimine a ansiedade. Faça umas caminhadas para fortalecer o corpo. Evite constipar-se ou apanhar algum vírus que comprometa o tratamento.
Abra o coração! A partir do momento que a quimioterapia começar, vai ser sócio/a de um clube enorme, vai encontrar muitas pessoas na mesma situação que a sua. Não se feche, oiça, partilhe e perceba que não está sozinho/a. Vai perceber que na partilha vai aprender muitas coisas, ceifar muitos medos e alimentar a sua esperança.
Confie e acredite em si, você nem imagina a força que tem.
É verdade que nunca dá para nos prepararmos mas estas dicas são super úteis.
Obrigada e beijinho Maria Amélia
Obrigada Adriana.
Beijinho 🙂
Que bom post! Estes momentos nunca são fáceis mas há sempre uma forma de tentar que não sejam um inferno. Obrigada pela partilha.
Obrigada eu pelo seu comentário.
Mais uma vez muito obrigado pela sua partilha! É um excelente apoio para os doentes e para as famílias!
É essa a intenção, que seja útil e que ajude. Muito obrigada 🙂
Posso partilhar este texto? Considero informação muito útil.
Olá Marta, claro que pode. Obrigada
Boa dica . Reconheço todos os tópicos. Apenas reforçar o ânimo com que temos de passar por tudo isto. Para mim o pior ainda é a dormência das mãos e dos pés. É um pesadelo.
Ânimo e coragem para todos.
Olá Paulo, tem muita razão, o animo é muito importante 🙂
Eu também tive as mãos e pés dormentes, mas aos poucos foi passando. Com movimentos, água quente, massagens… e o tempo claro!
Obrigada pelo seu comentário 🙂
Tens aqui um excelente post, um autêntico guia que muitas pessoas tendem a “esconder”, não falam abertamente, tal deve ser o sofrimento associado…
Beijinhos
Obrigada querida. Beijinho
Gostei muito de ler!!!! Grande lição para todos nós , pois nunca sabemos o que pode acontecer, assim já estamos mais atentos!!!!! obrigada,
Obrigada 🙂
Beijinhos!