No outro dia ao ver o Manchester By the Sea (falei aqui no blogue), reparei numa coisa que penso sempre.
Sempre que me cruzo com alguém que tem um semblante carregado, um olhar vazio, um rosto marcado por uma dor, imagino sempre que aquilo seja fruto da vida que teve.
Não acredito que as pessoas andam assim por andar.
Não acredito que uma pessoa escolhe ter um ar soturno desses, só porque na véspera ficou a ver a Casa dos Segredos até às tantas e dormiu mal.
Para mim, tem que haver sempre uma história, mesmo que, na maioria das vezes, nem a partilhem comigo, mas eu sei que aquela rapariga que me abre a porta quando vou à acupunctura, não é só mal disposta, nem mal-educada. Há ali qualquer coisa por detrás que a fez assim e que, por algum motivo, ela não conseguiu ultrapassar.
Nunca a questionei, porque na verdade nem quero saber.
Mas sinto, que, por uma ou outra vez, quase a desarmava.
Desarmar às vezes é tão “difícil”, como dar um elogio.
Ou seja, não custa nada.
Pessoas, como por exemplo a personagem do filme que falei em cima, estão marcadas pela dor. Reagem facilmente com violência. São vazios.
Quando recebem um elogio… não sabem responder à altura, nem tão pouco aceitar.
Mas ouvem. E sentem.
É isto que penso, todas as vezes que me cruzo com alguém assim.
Nem sempre à fácil aceitar que nos tratem mal, só porque sim e na maioria das vezes, pela correria da vida e pela injustiça da situação em si, não consigo ter discernimento nem paciência para pensar antes de agir, mas, quando me cruzo recorrentemente (como é o caso desta senhora da acupunctura) com pessoas assim e percebo que o estado de desprezo pela vida e pelos outros, é uma constante e não um dia mau, imagino sempre que há uma história muito dura por trás.
Só não quero é saber qual é, mas acredito que exista.
Eu prefiro histórias felizes. Eu e todos. Mas sei que estas, também as há.
Créditos da fotografia: John Rocha