“Era amor… pensava eu.
Tinha a certeza que um dia, um dia que estava longe de chegar, iríamos ser felizes.
Mas tu batias-me. Batias-me muito. Por tudo e por nada. Ou melhor, hoje, já sem medo de ti, digo que me batias porque eras o maior dos cobardes. Nunca escolheste ser feliz. Nunca quiseste.
Batias-me porque tinhas ciúmes, mas ao mesmo tempo dizias que eu era feia e que ninguém me pegava. Mostravas fotografias no teu telemóvel de outras mulheres. Todas elas mais giras que eu… para ti.
Torturavas-me. Humilhavas-me. Chamavas-me muitos nomes, todos os que te lembravas. E sempre aos gritos.
Eu nunca sabia como te ia encontrar. Descarregavas em mim, todas as tuas frustrações. A maior parte das vezes que me bateste, nem percebi o motivo.
Batias-me e não me deixavas ir ao hospital. Deixavas-me definhar. E dava-te prazer ver-me sofrer.
Ao início fui ficando porque te amava, porque estava obcecada por ti e porque achava que um dia íamos passear a um jardim numa tarde de domingo de sol.
Nunca aconteceu. Os meus domingos eram passados entre lágrimas e medos. Depois fui ficando, por medo. Muito medo. Ameaçavas que, me matarias e farias mal à minha família. Pedi ajuda à polícia, mandaram-me ter calma e disseram que as discussões entre casais são normais (estava com a cara toda negra, com um deslocamento na córnea e um braço ao peito). Calma… Eu não podia ter calma, só me era permitido ter medo.
Disfarçava para as outras pessoas, que as nódoas negras eram de quedas ou qualquer outra coisa. Porque, na verdade, a maior nódoa negra estava no coração. Tinha medo que eles o confrontassem e que ele lhes fizesse mal.
Já tu, não disfarçavas nada, batias-me em sítios públicos a frente de pessoas e ainda te rias disso. Tinhas amigos que se riam contigo ao me ver sofrer, outros nem tanto.
Batias-me como se eu fosse um saco de pancada. E porquê? Nunca te fiz mal. Nunca te faltei ao respeito. Tratava de ti, como se fosses um homem de H grande. Nem liberdade tinha para falar, sem que tu deixasses.
Eu era uma miúda. E tu eras o meu primeiro namorado à séria. Porque me fizeste isto? Porquê a mim? Marcaste a minha vida para sempre.
Mais do que a dor física (que volta não volta, sinto), a dor psicológica, essa fica para sempre. Já passaram muitos anos e já não tenho pesadelos, mas durante muito tempo tive. Assim como o medo, durante muitos anos tive medo que voltasses e me matasses com as mãos como tantas vezes prometeste.
Não me amaste, não me protegeste, não me trataste como uma mulher, nem tão pouco como uma pessoa. Nunca mereceste ter-me na tua vida. És horrível.
Contigo passei a conhecer vários tipos e marcas de armas, quando as apontavas à minha cabeça.
Vivi um filme de terror durante anos. E hoje, sem medos digo-te isto:
“És a maior das merdas. És um triste. Um miserável. Um vazio de espírito. Um coração repleto de ódio. És um infeliz. Tenho pena de ti. Tenho pena que penses pequeno e que não tenhas sonhos. Tenho pena que só construas maldade. Só te destróis, será que és tão estúpido que não entendes isso??? E agora como é a tua vida? Estás preso, não vês o mundo a correr, não tens liberdade e continuas certamente a plantar o ódio. E eu? Olha eu, estou feliz. Tenho liberdade, farto-me de sonhar e voar. Ao contrário de ti, adoro fazer bem aos outros e hoje troquei as lágrimas por gargalhadas, e passo muito tempo a rir. Troquei as bases por blush, porque hoje já não preciso esconder nódoas negras na cara e preciso do blush, porque como ando sempre a rir, fica-me bem o corado. Ah… e já agora também quero dizer-te que o meu namorado diz que eu sou a miúda mais gira que ele conhece. A vida tem destas coisas. Estou feliz. Hoje sim, estou feliz.
O I’m feeling purple… purple de roxo… podia ser pela cor que mais deixaste em mim, mas não é! É a cor da pedra do meu anel de noivado. O meu namorado pediu-me em casamento e eu não podia estar mais feliz.
Deixo-te este vídeo, para que percebas que Homem faz-se de pequenino:”