Conheci-te sentada numa cadeira no IPO…
Não me lembro como começámos a falar…
Acho que há sítios onde as pessoas se aproximam sem motivos, e nos corredores desse sítio é assim.
A tua história era mais uma entre muitas do mesmo género… pensava eu.
Mas havia qualquer coisa em ti, que me atraia como se tivesses um íman.
Tinhas um olhar vazio, um corpo fraco mas andavas sempre a dar força a todas as mães, pais, filhos… a todos.
Andavas sempre de verde, parecia quase um amuleto.
Não me parecias exactamente preocupada contigo e eu achava isso tão estranho.
Não sei se achava só estranho ou qualquer outra coisa, mas eu sentia que havia algo de diferente em ti…
Um dia tomei coragem e perguntei-te se estavas bem, ou melhor, se estavas realmente bem.
“Estou. Estou preparada para tudo. A vida assim o quis…”
Não esmiucei, achei que pelo ar, era sério de mais para me meter.
Outro dia voltamos a cruzar-nos e eu solto um animado:
“Bom diaaaa!”
E tu saltas-me para os braços num pranto que íamos caindo no chão.
“Já não aguento mais…”
Choraste, gritaste, soluçaste.
Fizeste tudo o que quiseste e eu fiquei sempre em silêncio, a respeitar-te e a limpar-te as lágrimas.
Senti que precisavas tanto de explodir.
E de repente:
“É que eu já perdi tudo e não posso perder a Carolina e ela está cada vez pior.”
Foi nesse dia que eu soube a história da Paula.
E acreditem que se há histórias que me marcaram na vida, esta foi uma delas.
A Paula tinha perdido o marido e o filho num acidente de viação.
Uns meses depois, descobre que a filha de 3 anos tem um tumor cerebral.
Quando a conheci andava pelos corredores do IPO com um ar desesperado, mas eu não fazia ideia desta história macabra.
Infelizmente a querida Carol não resistiu e foi para o pé do pai e do irmão.
A Paula?
A última vez que me mandou mensagem dizia que ia sair daqui por uns tempos e rematou com:
“Já tinha perdido a alma, agora perdi o coração. Cada dia que passa, é menos um que estou longe da minha família. Só posso esperar pelo reencontro.”
Porquê que decidi partilhar esta história?
Porque nunca me vou esquecer de um rosto vazio, coração baço e uma alma sem rumo como a Paula…
Porque hoje vi uma menina muito parecida com a querida Carolina e fiquei com o meu coração apertadinho…
E tinha que ser um I’m feeling green, não fosse essa a cor-amuleto.
Mas a esperança (verde) não acaba. Umas histórias servem para ensinar e melhorar a vida de outras… Há almas grandes demais para esta vida, se calhar… Mas gostamos de acreditar que existe um lado de lá onde nos vamos reencontrar todos! Um lugar melhor onde devem estar
Eu também gosto de pensar assim 🙂