Olá David,
Faz hoje 1 ano que decidiste que este palco era pequeno demais para ti.
Tinhas 69 anos, não eras nenhum puto mas também não eras nenhum fóssil.
Contava contigo mais uns anitos.
Diz-se que morreste tranquilamente. Nunca percebi bem o que isso quer dizer.
E como se sabe isso… Mas se foi assim, ainda bem.
Para a grande maioria das pessoas, eu incluída, andavas bem, na tua vidinha, a compor, tocar, comer, beber… e nada previa que estivesses na red line.
Mas estavas. Morreste.
Mas como és um Senhor, primeiro lançaste um álbum, fizeste anos, e só depois decidiste ir embora.
É de herói.
Tinha tanta coisa para te contar, mas o melhor está mais perto de ti do que de mim.
Esse filho da puta do 2016 levou tanta gente boa e não falo só dos teus colegas de profissão.
Sabes David, também a mim, ele levou pessoas muito especiais.
Não passei a ouvir-te mais do que ouvia.
E também não gosto mais de ti do que gostava antes.
Sabes que eu sou daquelas que fico bem fodida com as pessoas que morrem, não gosto nada que se vão assim sem mais nem menos…
Por isso… demorei para te voltar a ouvir.
Mas já passou, e hoje sei que deves estar a curtir milhões nesse que deve ser o melhor salão de espetáculos do mundo!
Vou te fazer um pedido, tal como faço aos meus amigos músicos antes de eles entrarem em placo:
“Hoje parte essa merda toda, como se fosse a última vez que o fizesses e toca esta música com toda a alma.”
Na verdade, pensando bem… tu até que já és um amigo, pelo menos um companheiro de viagem. Quantas horas eu passei a ouvir-te? Isso não conta? Conta!
Manda cumprimentos aos Meus que estão por ai, à Amy, à Whitney, ao Prince, ao Cohen, ao Michael, ao Freddie, ao Sinatra e diz ao George que ainda estou em neura com ele, foi há muito pouco tempo. Só espero é que já se tenham encontrado e feito umas belas canções.
♥
Créditos da fotografia: Ralph Gatti / AFP