Na semana do massacre de Orlando estava fora de Portugal e com acesso muito limitado ao mundo.
Fui sabendo das coisas com algum delay, mas com a informação suficiente para me deixar profundamente triste.
No dia seguinte, estava a ler um livro à beira de uma piscina, quando, de repente, sou invadida com uma conversa que me deixou chocada. Porque fico, e ficarei sempre, chocada com a maldade humana!
“É diferente porque eles são paneleiros!”
Na piscina estava uma família portuguesa (numerosa e de várias gerações) a brincar entre eles.
Chegou uma senhora, que calculo que seria a Mãe de alguns daqueles rapazes e diz que vai falar com a recepção do Hotel para esclarecer o mal-entendido que houve com os espanhóis na véspera. Eu não faço a mínima ideia de qual era o assunto.
Sei que os rapazes desvalorizaram e disseram à Mãe para ela não ir, que já estava tudo resolvido.
Ela insistiu e disse:
“É melhor, porque nunca sabemos com quem nos cruzamos e ainda cá vamos estar uns dias, eu prefiro que fique tudo resolvido a bem. Não viram o que aconteceu ontem na América??”
E foi aí que um rapaz, que não devia ter mais que 22 anos e que estava acompanhado com miúdos entre os 8 e os 16 anos, mas também por mais velhos, na casa dos 30 e 40 anos, disse à boca cheia e para todos ouvirem (como se tivesse a dizer uma grande coisa):
“É diferente porque eles são paneleiros!”
E de repente, parecia que ele tinha dito a anedota do século e riram-se todos (expecto a Mãe) imenso.
Foi como se me tivessem dado um valente estalo…
Se, por um lado, deu-me vontade de chegar lá e dizer-lhe umas tantas e boas e explicar-lhe que ele devia ser o exemplo dos miúdos mais novos que tinha ao pé dele, ou ainda, dizer que os matulões que estavam com ele e que até podiam ser pais deles deviam ter chamado à atenção, por outro, fiquei invadida por uma tristeza, um vazio.
É por isto que o mundo às vezes acorda de luto…
É por isto.
Porque mesmo ali ao meu lado, há um grupo de garotinhos que fazem piadas com um massacre que ceifou tantos filhos, que roubou tantos sonhos, que matou tantos Homens…
Não quero, nem posso ficar indiferente, mas como se combate isto?
Como e quando é que as pessoas vão perceber que o Amor é a chave do cofre mais difícil?
Qualquer dia somos todos rotulados porque alguém assim o entende.
Os paneleiros. Os gordos. Os baixos. Os professores. Os coxos. Os que usam óculos. Os que têm pé de atleta. Os hetero. Os cancerosnos. Os brancos. Os pedreiros. Os diabéticos.
E por aí fora.
E cada um destes grupos, terá uma sentença, porque um dia, assim alguém o entendeu…
Não.
Eu não quero acreditar nisso.
Sou pelo Amor.
Pela Liberdade.
Pelo Respeito.
Somos todos merecedores de respeito e amor.
Nisso sim eu acredito.
Créditos da fotografia: ladybugkreativ