Esta história tem alguns anos.
Um dia vou a sair da casa de uma amiga minha e tenho uma senhora caída ao lado do meu carro.
Assustei-me e corri para ir ver o que se passava.
Ela virou a cabeça e disse:
“Escorrei neste chão e agora está a ser difícil levantar-me…”
Ajudei-a levantar-se e a apanhar as laranjas que estavam caídas no chão.
“Este joelho já está velho como eu… e ainda tenho que andar tanto…”
Toda vestida de preto, com lenço na cabeça, devia ter perto de 80 anos e um rosto vincado de dor que se via ao longe.
“Deram-me estas laranjas e este pão velho e eu aproveitei para vir buscar…”
Eu não conseguia dizer grande coisa.
Confesso que estava angustiada a ouvi-la.
A voz dela tremia, o corpo era tão fraco…
“Posso levá-la a casa?”
Primeiro ela não queria, mas depois olhou para o joelho e aceitou.
Pelo caminho contou-me que vivia com um filho e dois netos, todos eles com dependências ao álcool e drogas. Que ela é que sustentava a casa.
Que tudo o que tinha conseguido ao longo da vida o filho vendeu para tapar os vícios.
“Já nem a telenovela posso ver, porque também me venderam a televisão.”
Era viúva há muitos anos e as filhas não lhe falavam por ela ter ficado à ajudar este filho e os netos.
Mas ela dizia que Deus assim o quis e que não podia abandonar o filho e os netos naquela situação.
Levei-a a lanchar e ela pediu um pão com manteiga e um leite quentinho.
Cortou-me o coração ver alguém comer assim, com tanta satisfação.
Ainda me disse que eu era um anjo e que não se podia dar àqueles luxos há muitos anos.
Pão com manteiga e leite.
Eram estes os luxos.
Ia-lhe dar dinheiro, mas ela disse que não podia levar dinheiro para casa, porque criava muitas confusões. Então falei com o senhor do café e dei-lhe aquele dinheiro para ele converter em pão com manteiga e leite para ela ir lá lanchar quando quisesse.
Abracei-a.
Chorámos…
Fiquei a pensar se seria justo o que aquela mulher faz…
Fiquei a pensar se realmente era aquilo que Deus queria que ela fizesse…
Queria muito saber o seu nome, mas não sei.
Na altura não lhe perguntei.
I’m feeling Orange, porque cor-de-laranja era a cor das laranjas que rolaram do saco.
A única cor que contrastava com o preto da roupa e o pálido do rosto.
Lindo!!! Infelizmente há muitos casos assim, obrigada por seres tão boa!! Todos nós devíamos seguir este exemplo, tão pouco e a felicidade desta senhora.
Beijinhos*
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