Sentou-se um casal ao meu lado e assim do nada eu oiço:
“Já não te posso aturar…”
A senhora estava sentada. Era loira, devia ter uns 60 e poucos anos.
Ele estava de pé, com um casaco ao xadrez e um ar bem zangado.
“Trazes tudo à solta, não sabes dos papéis, estou farto disto…”
E foi à procura de informações.
Ela ficou onde estava, sem se mexer.
Deu-me um nó cá dentro…
Não sei a histórias deles, não sei nada, mas custou-me ouvir a forma como ele falava com ela.
“Tinhas que estar em jejum não sabias?? Agora não sabes fazer nada, não sabes nada! E agora?… Temos que voltar amanhã…”
E quando a Senhora se levantou, percebi um pouco do que aquele homem deve passar para falar assim com ela.
Ela arrastava-se. Estava totalmente dopada. Não conseguia sequer responder-lhe, enrolava totalmente as palavras.
Imagino que a forma como ele lhe falava era de revolta. Era de um alguém que a ama muito e que agora já não a reconhece.
Às tantas ela estava agarrada à parede e ele que já ia à frente, voltou a trás e agarrou-lhe no braço para a ajudar.
Bem sei que não é forma de falar com ninguém e muito menos com alguém que está doente, mas as pessoas também se esgotam…
Na boa verdade, eu não sei o que se passa ali, sei apenas que não me foram indiferentes…
A vida muda muito.
Nós mudamos muito.
É uma carta fechada…
Só nos resta que o Amor vença tudo.
Créditos da fotografia: Wira Dyatmika
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