No ano passado passei umas semanas em Nova Iorque e adorei.
Estou a preparar os textos da viagem para partilhar convosco.
Enquanto isso não acontece e porque hoje é 11 de Setembro, o dia em que o Mundo ficou cinzento e muito triste, tenho que partilhar a minha experiência quando visitei o Memorial.
Não tinha programado ao certo qual o dia que iria visitar o Memorial e no dia que decidi ir, contrariamente aos dias anteriores, o dia amanheceu muito cinzento e com aquela chuva miudinha que dá aquela sensação de suspense no ar. Quase um friozinho no estômago.
A cidade de NY em si tem uma energia muito característica, muito cheia de movimento e alegria, mas perto do Memorial tudo muda… Tudo.
A energia fica mais leve, mas ao mesmo tempo sentimos um peso… as pessoas estão praticamente todas em silêncio e as que não estão, apenas se atrevem a sussurrar… Há um respeito gigante…
Cheguei lá e deu-me uma vontade enorme de chorar…
Comecei a olhar para todos aqueles nomes…
A lembrar-me das imagens que vi há anos atrás quando se deu a catástrofe…
A recordar as histórias que se contaram na altura sobre as pessoas, sobre as últimas mensagens que enviaram, sobre os últimos telefonemas que fizeram…
Vi nomes de pessoas de todas as partes do Mundo…
Eram pessoas…
Eram pessoas que saíram de casa para trabalhar…
Eram mães e pais…
Eram bombeiros…
Eram pessoas…
Eram sonhos que nunca se realizaram…
E o que restou? Nada.
Nada.
Ficou este buraco… E um imenso respeito.
Tive que fazer um esforço descomunal para não imaginar a pessoa que estava por detrás de cada nome…
Enquanto olhava para aquele enorme buraco a chuva teimava em cair…
Finalmente pude chorar… As lágrimas misturaram-se com a chuva…
Tinha o coração estrangulado com tamanha destruição…
Tive medo do que não vivi…
Senti dor por compaixão de todos os que foram atingidos e de todos os que ficaram a sofrer…
Vi pessoas a porem uma rosa branca num dos nomes e rapidamente supôs que eram da família e abracei quem estava comigo e chorei…
Não consegui…
Aquela foi a última morada de tantas pessoas…
De tantos sonhos…
De tantas vidas…
Quantos pais perderam seus filhos?
Quantos filhos perderam seus pais?
Quantos avós perderam seus netos?
Quantos maridos e mulheres perderam o cônjuge?
Quantos amigos se perderam?
Quantas vidas!
Quantos sorrisos?
Quantos sonhos?
No local das fundações das duas torres gémeas do World Trade Center que foram cruelmente abatidas existem agora duas enormes piscinas (North Pool e South Pool) que têm água constantemente a brotar e é quase inexplicável o que se sente por lá.
O som da água com o silêncio profundo evocado quase espiritualmente cala totalmente a tão movimentada e barulhenta baixa de Manhattan. E o mais incrível é que parece que fica a quilómetros de distância, mas é mesmo ali ao lado. A cidade que nunca dorme na zona do Memorial transforma-se na zona mais tranquila do Mundo.
Agora partilho a última e enorme emoção que senti por lá.
Após a destruição maciça nas torres gémeas, pessoas, jardins, enfim… em tudo, houve uma… apenas uma árvore que sobreviveu.
Hoje está numa zona privada sempre acompanhada de um segurança.
Fiquei a olhar muito tempo para aquela árvore. Para mim o seu significado é: esperança e vida.
Foi a única que sobreviveu, mas sobreviveu.
Aguentou, resistiu e ficou cá.
Mesmo quando tudo explode há sempre uma esperança para os que ficam.
Ela ficou e hoje está rodeada de muitas mais árvores, como se fosse uma líder, um exemplo a seguir.
Não é da mesma cor que as outras árvores, porque a bagagem de vida também é outra.
Ela sobreviveu ao Atentado do 11 de Setembro nas Torres Gémeas.
É uma grande bagagem. Enorme.
No fundo, é como as pessoas, como todos nós.
Cada um com a sua experiência de vida, mas que pode sempre ser partilhada com os outros… e acrescentar qualquer coisa à vida de cada um.
Não saí de lá igual à pessoa que entrei.
Senti-me ao mesmo tempo mais preenchida e mais vazia…
É um sentimento bipolar…
Mas no meu coração ficou cravada a frase: eram pessoas e sonhos… e acabaram ali.
Tenho um enorme, mas mesmo enorme respeito pela dor que este atentado causou em tantas pessoas e lamento profundamente o sofrimento de todos os que perderam familiares ou amigos nesta tragédia.
Hoje o meu coração está em NY…
Ficam aqui algumas fotografias desse dia, não são as melhores porque no meio da emoção, as mãos tremiam-me, o foco era outro…
Aqui está a árvore da esperança.
Sozinha e protegida.
Uma vida cheia de sabedoria.
Créditos das fotografias: Maria Amélia
Que texto tão belo para uma justa homenagem aos que padeceram naquele fatídico dia!
Obrigado Maria Amélia
Olá Maria Vitória.
Muito obrigada pela visita e comentário. 🙂
Obrigado Maria Amélia por partilhar estas lindas palavras!
Que texto extraordinário. Senti exatamente o mesmo quando visitei o Memorial: aquele lugar parece que se separou da cidade!
Olá Ivone,
Exactamente isso… parece que se separou da cidade.
Obrigada pela visita e comentário.
Um beijinho
Joshua,
Muito obrigada eu pela visita e comentário.
Hoje so mos todos NYC.
Obrigado Maria Amélia
Adorei esta sua partilha!
Obrigada Xana.
Um beijinho.
#JeSuisNYC <3
Obrigada pela visita.
Vivo em NY e acho muito bonita a forma como a Maria Amélia sente a atmosfera que se sente no Memorial. Digo isto, porque há pessoas que vivem cá e são um pouco indiferentes…
Eu também me emociono sempre que passo lá, não vou lá tantas vezes gostaria por questões profissionais mas é sem dúvida um local que me emociona.
Gostei particularmente da sensibilidade quando escreveu a parte do silêncio que contrasta com a cidade barulhenta…nunca tinha pensado nisso e é exactamente isso q se passa por lá…
MUITO OBRIGADA… afinal não precisamos de ir muitas vezes a um local para sentirmos e percebermos exactamente para que existem…
Se voltar cá avise-me… gostava muito de conhecer a dona destes I’m Feelings maravilhosos!
Maria,
Muito obrigada por me ler e por me sentir.
Fiquei muito emocionada com o seu comentário.
Brevemente irei relatar a minha experiência do tempo que passei por NY, vá passando por cá que vou gostar muito de saber a sua opinião.
E qualquer dia destes vou mesmo voltar a NY e convido-a desde já para um picnic no Central Park! 🙂
Um beijinho e obrigada pelo carinho.
Que homenagem maravilhosa. Hoje estamos sim todos cm eles. Um grande beijinho e obrigada pela partilha ????
Obrigada querida Inês. Beijinho
Há 14 anos atrás fomos todos de NY. 14 anos depois, neste mesmo dia, continuamos a ser todos de NY. Continuamos a lembrar-nos exactamente do que estávamos a fazer no momento em que soubemos da notícia… No momento em que o segundo avião embateu na segunda torre. Felizmente, não sabemos por completo o que é sentir este momento. Muito felizmente! Mais que não fosse por isso temos que agradecer todos os dias da nossa vida a Deus ou a quem quer que seja o Ser Supremo que exista! Muito obrigado por nos fazeres sentir as dores dos outros e não a própria…
Lamentamos mesmo muito todas as perdas. É com cada injustiça que se passa neste mundo, o nó na barriga é tão grande que tanto ao ler este teu texto, como por exemplo a ver o episódio 300 do Alta Definição do último sábado, onde um judeu visitou pela primeira vez Auchwitz… São muitos murros no estômago. Só quem não tem sangue a escorrer nas veias não se arrepia, só em quem o coração não bate (ou não existe!) é que não sente a lágrima a escorrer pela face seguida de outra e outra…
Muito obrigado pela partilha Amélie! É com isto que crescemos. Com partilhas reais e verídicas cheias de ensinamentos variados…
Obrigada pelo vosso comentário…fiquei comovida.
Tenho alguns textos escritos sobre Auchwitz…é um tema que me toca particularmente, um dia partilho.
Muito obrigada por estarem desse lado.
Um beijinho para vocês. <3
Através das tuas palavras, fizeste como se eu estivesse no local a viver as mesmas emoções, a sentir a mesma dor, o engolir em seco e absorver a profunda tristeza com que descreves o local. Beijinhos no coração minha querida Amélia.
Beijinhos minha querida Sandrinha.
[…] já falei da magia do Central Park, da singularidade de Harlem, do respeito que nos merece o Memorial do 11 de Setembro, da alegria que só Brooklyn tem, eu até do porco Franklin falei… e claro de uma das festas […]