Contou-me uma amiga minha, que no outro dia ouviu uma conversa entre os seus filhos que a deixou com um turbilhão de pensamentos.
Se por um lado, ela ficou a pensar no trabalho que a escola da filha faz na quebra do preconceito e na explicação da igualdade de género, por outro achou que aquilo era demasiado simplificado e leviano para aquele pequeno cérebro de 6 anos.
“Anda brincar com as minhas bonecas…” (A, 6 anos)
“Não, não quero nada brincar com bonecas. Os meninos não brincam com isso.” (G, 11 anos)
“Olha na minha escolinha os meninos e as meninas brincam com os mesmos brinquedos, senão elas ralham. Até dizem que os meninos podem usar saia se quiserem. E disseram se eu não gostar de ser menina posso mudar para menino”
(A, 6 anos)
Ela falou na escola da menina e onde lhe disseram que têm um aluno de 7 anos que gosta de ir de vestido para a escola e de usar cores ditas para menina, como o cor-de-rosa e amarelo e para evitar cenas de bullying trabalham desde os primeiros dias de escola o combate ao preconceito.
Eu respeito completamente o menino que se quer vestir de menina, já não é novidade para ninguém que isto acontece, já há tantas campanhas (até agora só conheço internacionais) onde este tema está mais que batido.
Aqui em Portugal não sei qual a abertura para este tema, sinceramente não conheço ninguém que o faça, conheço apenas uma pessoa que se escondia e fazia à porta fechada, mas assumir um vestido e ir para a escola não conheço.
Ainda assim, acho louvável que a escola não o condene, nem faça parte da permissão do bullying, mas… acho que há um meio termo.
Penso eu -que em nada conheço métodos de ensino e de educação para crianças- que dizer a um pequeno ser de 6 anos que se não gostar de ser menina pode mudar para menino não é a melhor das ideias.
Até porque, mesmo que fosse esse o desejo da menina o processo estava longe de ser simples e rápido.
Continuo a achar que há assuntos que têm que deixar de ser monstros, mas também não os podemos relativizar como se tivéssemos a falar de ovos.
Se não gostares de mexidos, fazemos escalfados.
Créditos da fotografia: Caleb Woods