Os idosos não são surdos

Eu ando um bocadinho farta de assistir à forma como se trata ou destrata os nossos idosos.

Os nossos velhinhos.

As nossas enciclopédias humanas.

Eu vou aguentando, mas há dias em que viro a boneca…

Lamento, mas nem sempre consigo (nem quero) ser educadinha…

(isto dito aos gritos)

“Este Senhor não é surdo. Nem ignorante. Nem uma criança. Nem tem nenhum atraso cognitivo. Por isso, não precisa de lhe gritar, precisa sim, de lhe explicar. Mas não explicar como se ele tivesse 4 anos, porque este Senhor tem certamente mais de 70. E explique de forma a que se perceba, porque, com certeza, de adivinho, este Senhor terá pouco.”

Confesso que se tivesse dito isto um pouco mais baixo, teria sido mais elegante.

Mas não consegui.

Depois de ver uma funcionária a gritar, literalmente, gritar com um Senhor que lhe fazia uma pergunta (bem pertinente), relativizar a resposta como se ele fosse algum calhau com olhos, deu-me volta ao estômago.

E quando assim o é…

Perco um pouco o bom senso, e fiz o mesmo que ela: gritei!

Será que aquela funcionária, que nem 30 anos tem, não tem avós?

Será que ainda não percebeu da riqueza humana que são os idosos?

Que são verdadeiros sábios e têm que ser tratados e respeitados por isso?

Estou cansada desta merda…

Não deviam haver mais leis de proteção para os idosos?

Depois de uma vida inteira, chegam a esta idade e têm que ser tratados assim?

Têm que ter medo de fazer perguntas?

Medo de sair de casa?

Não posso mudar o mundo, mas enquanto assistir a cenas destas, farei sempre o mesmo que fiz hoje.

Irei sempre defender. Irei sempre parar com esse circo à minha frente. Irei sempre obrigar a respeitarem os idosos e a darem-lhes as respostas que eles precisam. E irei sempre, mas sempre, reportar na esperança que quando deem formação às pessoas, lhes expliquem que ser idoso não implica ser surdo, nem criança, nem tão pouco ignorante!

Para quando uma Comissão de Protecção de Idosos?

 

Créditos da fotografia: Unsplash