Tenho vivido a tragédia de Pedrogão Grande com o coração muito apertado e invadida de um silêncio profundo.
Como disse aqui, tinha estado ausente deste mundo grande e complexo que é a internet e quando começaram a chegar as notícias sobre o incêndio, fui, aos poucos entrando no mundo virtual afim de me inteirar da situação.
E assim fiquei durante uns dias a assistir às reações a esta tragédia.
Vi aquela que provavelmente foi a maior e mais rápida onda de solidariedade que aconteceu em Portugal, de facto, se não somos o povo mais solidário do mundo não sei o que seremos!
Vi fotografias de bombeiros caídos no chão, tal não era o cansaço.
Vi rostos e silêncios que ainda hoje não me saem da cabeça.
Vi fotografias de famílias inteiras que acabaram naquela estrada da morte.
Vi a dor cravada no rosto do nosso Presidente da República.
Vi a dor cravada em todos os que apareciam a relatar o acontecido…
Mas, também vi outras coisas.
Vi que para além de sermos um povo de emoções fortes e de cariz solidário, somos também um povo pequeno, que pensa com maldade, que se esconde atrás de um teclado como se isso fosse a maior arma que há, vi e li de tudo. Não vou generalizar, porque não somos todos assim, mas a verdade é que Portugal divide-se nestes dois campos, esperando eu, que a percentagem seja muito mais baixa neste lado.
Pessoas que destilam ódio e que não conseguiram respeitar aquelas famílias, aquelas aldeias.
De facto, há pessoas más. Despidas de qualquer compaixão. Vazias de amor.
Ninguém, mas ninguém com um pingo de amor no coração é capaz de dizer mal dos bombeiros, aqueles Homens e Mulheres que nos salvam. Mas que também eles, sendo HUMANOS, têm limitações e não conseguem estar em todo o lado ao mesmo tempo.
Há pessoas más, pessoas que confundem a realidade com o virtual, que há muito que perderam o bom senso.
Pessoas com falta de uma vida, com falta de amor.
É incrível a quantidade de pessoas que desprezou e ridicularizou os abraços que o Presidente da República deu àquelas pessoas.
Que diminuíram o trabalho dos bombeiros e que duvidaram da integridade e da entrega deles para nos salvar a vida todos os dias.
Que pegaram num momento menos feliz da Judite de Sousa para trazerem para a ribalta de forma gratuita e leviana a morte do filho dela, como se, passar pela morte de um filho fosse pera doce… SHAME ON YOU!
Que foram a Pedrogão Grande tirar selfies na estrada da morte… por favor!
Até houve meios de comunicação social que se lembraram de opinar sobre a quantia que algumas figuras públicas doaram e se sentiram no direito de dizer que foi pouco. Será que essas almas iluminadas que escrevam sobre isso doaram 1euro que fosse?
Que duvidaram que o número solidário da SIC (760 100 100) fosse credível e que não doavam porque o estado retia o IVA. Agora que a SIC, as operadoras e o estado já informaram que nada ganham com essa chamada e que reverte na íntegra, a minha pergunta é:
Já ligaram ou continuam a procurar desculpas para não o fazer??
É fácil estar sentado num sofá de pele castanho, ter o computador no colo, com o ar condicionado ligado e uma garrafa de água fresquinha e começar a distribuir maldade pura e dura e a destilar ódio, a martelar as teclas do portatelzinho com ganas, é fácil não é?
E ir até lá?
E ir até Pedrogão ver a mancha cinzenta que se vive por lá.
O cheiro que se encrava e que parece não querer sair nunca.
A dificuldade de respirar.
O silêncio perturbador.
E as histórias de quem acabou ali. Naquela estrada.
As histórias de quem estava a passar um dia em família e acabou ali.
As histórias de quem não conseguir fugir às labaredas.
E se tiverem coragem, tanta coragem como aquela que têm quando apertam nessas teclas cheios de força, ide ter com aquele Pai que perdeu uma filha de 15, uma de 12 e a esposa. Falem com ele e oiçam o que um Homem que perdeu tudo tem para dizer.
Ou aquela filha que encontrou os Pais mortos abraçados.
Ou aquele casal que estava em lua-de-mel e o filho morreu depois de passar um belo dia na praia fluvial.
Vão seus cobardes de merda, vão lá ver o inferno, sim, porque inferno é aquilo não é ficar sem wifi ou sem bateria.
Inferno é o que aconteceu em Pedrogão Grande.
E a vida é feita de factos reais, não de traços virtuais.
Vão, seus cobardes de merda, que não ajudam e ainda criticam quem o faz.
Vão, seus cobardes que têm a coragem de misturar piadas de futebol com a tragédia de Pedrogão Grande.
Vão ser úteis, larguem os teclados, comprem águas, biafine, fruta e mais o que for preciso e vão ajudar.
Ou então, não vão. Não ajudem.
Mas calem-se!
Ou se não forem capazes de se segurar, cortem os dedos para não escrevem tanta barbaridade.
Ódio é veneno, não se contaminem.
64 pessoas morreram.
64.
Créditos da fotografia: Pixabay
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