Uma criança estimulada a escolher e a selecionar o que é mais importante para si, ou seja, a saber a diferença entre o desnecessário e o indispensável, desenvolverá a sua capacidade de resiliência e terá mais facilidade em lidar com as adversidades da vida, e a ser uma pessoa de sucesso.
Tive o privilégio de ser filho de pais imigrantes e de nascer num país chamado África do Sul. Quando chegaram àquele país, os meus pais tiveram de trabalhar muito para iniciar a sua vida. Para trás, tinham deixado Moçambique. Estas mudanças na nossa vida levaram-me a aprender a ser independente desde tenra idade.
Desde pequenino que ia de bicicleta para a escola e ia sozinho para o râguebi ou o ténis. Na altura, os meus pais não podiam ir ver-me jogar, nem sequer aos eventos da escola.
Mas foram precisamente estas situações que me ajudaram a ser independente mais rapidamente e uma melhor pessoa. Garanto que não perdi amor aos meus pais, porque percebi que eles estavam a trabalhar para me conseguirem pôr numa escola boa, para me comprarem raquetes e sapatos para eu poder jogar ténis e râguebi, e tudo aquilo de que eu gostava.
Percebi que toda esta minha vivência me ajudou a ser a pessoa que sou hoje. Foi graças aos meus pais que me tornei independente muito cedo, que cresci e aprendi a ver a vida com outos olhos, com os olhos de quem tem de se esforçar para ter o que quer que seja.
Fiz muito erros, mas também aprendi. Comecei a ajudar o meu pai aos 12 anos e tive o meu primeiro acidente de carro aos 14 anos. O facto de os meus pais nunca me apontarem o dedo fez com que eu aprendesse e retirasse importantes lições das experiências menos positivas pelas quais passei. Acreditem, a minha educação permitiu-se ser a pessoa que sou hoje.
Hoje os tempos são outros. Somos manipulados pelo constante apelo ao consumismo, pelo que urge pensar e ponderar sobre a importância dos bens de consumo para as nossas crianças.
Por isso, quando olho para os meus filhos, penso: estão em escolas melhores do que eu tive, tenho mais possibilidades de os ajudar a fazer desporto e de lhes comprar roupa. E estou sempre a lutar contra mim próprio, para não dar demasiado aos meus filhos. Quero dar-lhes o que é bom, abrir-lhes portas para eles terem experiências, mas não dar demais, porque, às vezes, podem pensar que é um dado adquirido e não um privilégio.
A verdade é que estamos num país espetacular, onde temos mais sorte do que muitas pessoas que estão espalhadas pelo mundo, já que conseguimos dar às nossas crianças conforto, comida, desporto, tudo e todos os dias, sem muita luta. Acreditem que podemos dar às nossas crianças mais do que 99% das pessoas do mundo podem dar! Já pensaram nisso?
Ao mesmo tempo, se calhar, às vezes damos demais. E essa é a luta diária que travo com os meus filhos, porque quero sempre deixar crescer dentro deles aquele “bichinho”, a que chamo vontade própria de ter sucesso. É aqui que a nossa missão como pais deve atuar, para não deixar esta “fome” morrer. O importante é não tirarmos as grandes vantagens das vidas deles, para que eles próprios consigam, através do seu esforço e vontade, atingir o potencial máximo de realização.
É óbvio que, como queremos dar tudo aos nossos filhos, por vezes dói-nos quando não lhes damos algo e eles ficam aborrecidos, mas é nestas situações que acredito que estamos a dar muito mais do que imaginamos. Estamos a dar mais ensinamentos e mais vontade de terem sucesso.
Se o “bichinho” da fome de ter sucesso não existir, roubamos o maior potencial que os nossos filhos têm na vida, que é o sucesso e a vontade de mudarem o mundo.
Os meus pais deram-me o suficiente e deixaram-me ter “fome” de sucesso. Por isso, estou-lhes grato, porque me ajudaram a ter uma vida melhor.
Educar pode ser talvez a tarefa mais complexa que o ser humano conhece. Mas é também a mais valiosa para a construção de uma vida feliz, a dos nossos filhos, que serão o futuro de manhã.
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