Ultimamente este assunto tem vindo à baila várias vezes entre as pessoas com quem tenho conversado.
O respeito pelos horários dos outros.
Aliás, o respeito pela vida dos outros.
O respeito pelas pessoas!
Há dois tipos de pessoas no mercado de trabalho:
Aquelas que trabalham com horário fixo, seja ele das 9h-18h ou das 12h-20h. Ou qualquer outro. Entram e saem à hora que está escrita no contrato de trabalho. Durante essas horas atendem o telefone, respondem e-mails, vão a reuniões, assinam papéis e mais um sem fim de coisas. Na grande maioria das vezes, de 2ª a 6ªfeira. Marcam férias até ao mês de Março do ano corrente. Almoçam no horário estipulado pela entidade pagadora e na maioria das vezes, até recebem um subsidio para a bucha!
Depois existe outro tipo de pessoas, que trabalham por conta própria. Que são vistos como o pessoal cool que não tem horários, que pode ir fazer uma praia de manhã se quiser, que podem tirar um dia a meio da semana para ir fazer um spazinho, que faz noitadas porque não tem que picar ponto e tal… E que qualquer hora é hora para atender o telefone e responder a e-mails. Que têm ar de quem ganha tanto dinheiro, que comem lagostas ao pequeno-almoço.
Não vou entrar no discurso já mais que batido sobre os profissionais independentes, nem entrar na choraminguice conhecida dos famosos recibos verdes, tipo isto:
Não têm casa própria, porque não têm contratos de trabalho.
Não podem ficar doentes, porque não têm baixas.
Não podem ir de férias, porque não recebem subsídios de férias.
Não fazem grande festa no Natal, porque não recebem subsídios de Natal.
Nunca sabem se vão comer no mês seguinte, porque é assim mesmo que funciona.
Que as finanças é a “loja” que mais visitam.
E blablabla…
Não, não acho nada disto.
Cada um, tem a vida que tem e tem que se moldar à realidade que vive.
Há uns tempos atrás andava tudo muito triste por causa da retirada ou diminuição dos valores dos subsídios de férias e/ou Natal, eu não tenho e aprendi a viver assim há muitos anos.
São realidades diferentes…
Não sou coitadinha nem vítima, mas também não admito que não me respeitem.
Eu giro os meus horários e atendo o telefone e respondo a e-mails quando faz sentido.
Bom senso é a regra!
Não é porque não tenho um contrato escrito com o meu horário, que não têm que o respeitar.
Não é porque trabalho por conta própria que não tenho que ser respeitada.
Não me sinto, nem nunca permitirei que me queiram fazer sentir, um ser inferior porque trabalho por conta própria.
Há dias um amigo meu dizia-me que foi entregar um projecto e o dono da agência que lhe pediu umas alterações, e então visto que era sexta-feira ele disse que na segunda-feira lhe enviada um draft, e o tipo ficou chocado…
“Então mas você não trabalha ao fim-de-semana? Pensava que sim…!”
Mas ele pensava que sim porquê?
Porque o meu amigo trabalha por conta própria.
Então mas as pessoas que trabalham por conta própria não têm família, nem programas de fim-de-semana, nem tão pouco direito ao descanso??
Ahhh… já percebi!
O pessoal que trabalha a recibos verdes tem que fazer o que os outros não querem fazer, é isso?
Trabalhar nos dias e horas que os contratados não querem?
É trabalhar quando os outros querem, pagar impostos e no limite agradecer por poder respirar.
MENOS minha gente!
Muito menos!
Nunca me disseram que ao escolhermos trabalhar por conta própria, entramos a dignidade ao diabo.
Já basta os impostos… poupem-me!
Créditos de fotografia: Ryan McGuire
AAAAAAAAAAAAh como podíamos carregar este texto com mais e mais exemplos!! Seja que trabalho for, tem os mesmos direitos que os outros. Se têm mais regalias, ou trabalham ali para as áreas dos tráficos ou drogates, ou então se têm mais regalias, têm mais despesas, mais trabalho fora de horas, mais incertezas. Disso ninguém fala! Todas as pessoas pensam nos independentes como ricos ou pessoas com sorte e não vêem para além disso. Esquecem-se que são pessoas como os outros…
As pessoas que falam assim, nunca trabalharam por conta própria…
Beijinhos meus queridos!**