Há vários séculos que a força humana tem vindo a ser substituída pela força da máquina. Com o constante avanço da tecnologia, as máquinas tornam-se cada vez mais perfeitas e aptas a desempenhar os trabalhos outrora executados pela espécie humana. Mas eu quero continuar a acreditar que há profissões que não saem de moda e que avançam ao sabor dos anos. Ou melhor que se vão aprimorando pela força da relação.
Este debate em torno do homem versus máquina não é de agora e muitos são os filmes que mostram um mundo futurista a ser dominado e controlado pela inteligência artificial. Enquanto muitas pessoas encaram a tecnologia como uma ameaça que remonta à revolução industrial, para outras os avanços tecnológicos são um mundo de oportunidades.
Esta última perspetiva agrada-me já que quero pensar mais na conjugação de esforços de dois mundos e que a palavra “automação” não é uma maldição, nem representa o desaparecimento gradual das vocações seculares, mas é antes uma oportunidade de exploração e um avanço para a eficácia.
Por isso, não consigo sequer pensar na ideia de que, ao invés do meu barbeiro de há anos e em quem confio, tenho uma máquina impessoal e distante à minha frente a cortar-me o cabelo. Não quero imaginar que uma simples experiência como a de cortar o cabelo pode deixar de ser um momento agradável e de convívio, como o tem sido nos últimos anos.
Ao contrário de alguns estudos que defendem que a profissão de Barbeiro tem os dias contados, vou continuar a acreditar que o senhor Joaquim vai estar à minha espera para me cortar o cabelo e dar dois dedos de conversa. E pode ser com os utensílios mais futuristas, com as ferramentas mais modernas… com tudo o que a inovação possa proporcionar para melhorar a sua atividade. Porque a tecnologia também é necessária e imperativa!
Para mim, o senhor Joaquim será sempre um barbeiro muito moderno pelo seu espírito, mas também por falar e ouvir os seus clientes enquanto corta o cabelo!
Afinal, é ou não a proximidade com os clientes e a relação que estabelecemos com os mesmos que nos tornam melhores profissionais? Os clientes sempre estiveram no centro de qualquer estratégia de negócio e não restam dúvidas, quanto melhor uma empresa conhece os seus clientes, maior será a sua hipótese de sucesso.
Para perceber melhor o quão importante é conhecer os clientes, leia a entrevista que fiz ao senhor Joaquim.
Tim: Sempre quis ser barbeiro?
Joaquim: Não! Não tinha nada definido quando era novo. O meu pai era barbeiro e o meu avô também. O meu irmão também seguiu as pisadas da família e foi barbeiro. E eu nunca pensei em ser barbeiro. Acabei o segundo ano e vim para Cascais para uma loja de pronto-a-vestir, onde só estive um mês. Na altura regressei à minha terra e acabei por chegar à conclusão que tinha de ser barbeiro. Comecei a aprender com o meu pai e com o meu irmão. E aqui estou eu, em Cascais, há 35 anos e com carteira profissional!
Tim: O que mais gosta nesta profissão?
Joaquim: É uma profissão que actualmente é bem paga. Mas o que gosto mesmo é do contacto com o público. Passam por aqui várias pessoas, de diferentes estratos sociais, mas todas são tratadas da mesma maneira. É um trabalho que não custa muito a passar, uma vez que falo com os clientes e já os conheço. Há uma amizade!
Tim: Considera que a relação que estabelece com os clientes é fundamental para o seu sucesso como de qualquer outra profissão?
Joaquim: É fundamental! Eu tenho clientes que frequentam o meu estabelecimento há anos. Comecei por cortar o cabelo aos avós, pais….até chegar a eles. Além disso, eu já sei o que os meus clientes querem. Só precisam de se sentar na cadeira. O resto trato eu.
Tim: O que mais tem evoluído na profissão de Barbeiro?
Joaquim: A parte de higiene tem evoluído muito nesta profissão. Há procedimentos que se faziam antes e que hoje não se fazem, como a troca de lâminas. Utilizávamos sempre a mesma navalha, o que por vezes contribuía para o aparecimento de infeções na cara. Outras das mudanças é ao nível dos cortes e desenhos, apesar de eu não entrar muito nesta área.
Tim: Há cada vez mais jovens a optar pela profissão de barbeiro?
Joaquim: Há cada vez mais jovens porque a profissão de barbeiro é vista como uma saída profissional. Não o fazem por gosto, mas por uma questão de necessidade.
Tim: Um conselho para quem quer apostar numa profissão como a de Barbeiro?
Joaquim: Tem de ter gosto, frequentar um curso que pode rondar os 2.000 e 3.000 euros e tem ter uma carteira profissional. Não concordo com as pessoas que optam por aprender pela cabeça dos outros, já que acabam por fazer asneira. Além disso, tem de ter clientela.
Tim Vieira
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Gostei imenso de ler este post!
Há certas profissões que não deviam ser substituídas por máquinas, nada substitui o contacto humano!
Beijinhos
É verdade!
Beijinho para si Tânia
Gostei!!!
Obrigada 🙂
Olá Maria Amélia,
Sabe que o que faz as profissões não são as pessoas serem brilhantes a nível técnico, é a capacidade de serem bons no que fazem mas bons enquanto seres humanos. Não nos interessa ir cortar o cabelo a alguém que o faça bem e depois seja um tipo mal disposto ou uma múmia.
Gostei muito deste texto.
Obrigada
É verdade Maria Guilhermina 🙂
Um beijinho.
Que história inspiradora e espectacular!
Gosto muito deste blogue e desta rubrica.
Grande e bom tubarão.
Obrigada JP!
O capital humano é sempre o mais valioso!
É mesmo isso.
Um beijinho!